5 de dez. de 2016

Análise Diplomática de um Animatic

No dia 30 de novembro, realizamos a última atividade presencial sobre o nosso blog. Contamos com a presença do professor Luiz Carlos e os estudantes da disciplina de Diplomática e Tipologia Documental do segundo semestre de 2016. A atividade que executamos foi a análise diplomática de um dos documentos produzidos no processo de criação de uma animação digital.

Como base para essa análise, nos apoiamos em três autores que já tínhamos trabalhado anteriormente, sendo eles: Bellotto (2002), Duranti (1996) e Lopez (2012). Como o nosso tema e o documento escolhido para a análise apresentam características específicas em função da espécie, nos apoiamos também nas autoras Di Pietro & Carvalho (2010), que publicaram um trabalho sobre a abordagem diplomática e tipológica de documentos audiovisuais e imagéticos.

Antes de entrarmos nessa análise diplomática, queremos mostrar para vocês as etapas que geralmente são seguidas em uma produção de um filme de animação digital (animação 3D). Restringimos aqui apenas as etapas em que se gera um documento ao final de cada subprocesso.

Vamos lá?


Pre-produção

Essa etapa envolve toda a criação da história, o desenho dos personagens, como serão os cenários e objetos do filme, mas tudo de uma forma muito simples, em 2D. Baseado na ideia inicial da história, partimos para um roteiro onde descrevemos as cenas, falas de cada personagem, cenário e ações do filme.


Com o roteiro pronto, partimos para a arte. É hora de gastar papel, colocar a imaginação e criatividade pra funcionarem. Para elaborar o storyboard, criamos as cenas com suas respectivas câmeras e personagens em diversas poses. Essas etapas podem levar anos. Nemo (da Pixar), por exemplo, demorou 2 anos para ficar com o storyboard pronto. Não entramos em tantos detalhes no nosso desenho de processos (afinal, estamos aqui para ilustrar a análise diplomática - foco né?), mas caso o storyboard não fique bom, o roteiro poderá ser modificado várias vezes, até que se chegue ao resultado esperado. Embora o storyboard fique perfeito, é no Animatic, nossa próxima etapa, que teremos certeza que não haverão mais modificações e que o filme está pronto para ser produzido. Claro que estamos falando de grandes mudanças de roteiro, e que durante a produção da animação, pequenas ideias podem ser adicionadas a qualquer momento.

Para o Animatic, uma versão simples do filme, temos que juntar o storyboard com o som, como foi explicado no post passado. No som, definimos os estilos de trilha sonora que serão utilizados e gravamos as falas dos personagens. A fala tem a função de auxiliar na criação dos personagens e suas expressões, que no meio técnico, é chamado de estilo de atuação. Para vocês terem uma ideia, dêem uma olhada no vídeo do BigBuck Bunny, onde as grandes etapas da produção de uma animação 3D podem ser comparadas.


Com estas etapas concluídas, partimos para a criação dos modelos, com a equipe da Direção de Arte que orienta os desenhistas para a criação do Concept dos personagens e dos cenários. Ao final dessa etapa, os desenhos estarão prontos para irem para a Modelagem.


Produção

Com as etapas anteriores concluídas (pré-produção), chega a hora de usarmos os softwares específicos de animação. Nesse caso, foi utilizado o Blender (software livre de animação). Inicia-se, com isso, a Modelagem de  todos os elementos que foram criados no Concept. A Modelagem é a etapa em que um escultura digital de cada personagem é feita.


A malha produzida na Modelagem é exportada para ser trabalhada nas próximas etapas. Uma dessas etapas é o Rigging, onde criamos um esqueleto e controladores dos movimentos dos personagens que serão usados na animação.


A malha também é utilizada para produzir a Textura do que foi modelado. Ela consiste em criar as cores, a porosidade, a reflexão, a transparência, o relevo, etc.

A etapa seguinte é a Animação, que seria o "dar vida" ao filme. Consiste em fazer o personagem falar, se movimentarem... ou seja, é brincar de marionete sem fios. No nosso caso, com os controles que foram feitos no Rigging.

Com a Animação pronta, fazemos os efeitos especiais, que podem ser simulação de água, de partículas de poeira, de fumaça e fogo. No caso dessa Animação 3D, um dos efeitos mais utilizados foi a simulação dos pelos dos animais. Para isso, usamos a malha produzida na Modelagem.


Agora partimos para a Iluminação das cenas, em que luzes são inseridas para criar o tom do filme, permitindo uma visualização mais clara (no sentido de não ser escura). Além disso, a Iluminação é responsável pelo cálculo das sombras.

Logo em seguida, partimos para o Rendering. Nessa etapa, salvamos uma imagem de cada frame produzido na animação, que serão usadas na Pós-Produção. Cada segundo de animação tem, geralmente, 24 frames por segundo e cada um desses frames pode ser separado em camadas para facilitar e otimizar o Rendering e as etapas da Pós-Produção.


Pós-produção

Iniciamos a Pós-Produção fazendo a etapa de Composição, em que se pegam todas as camadas produzidas no Redering e sobrepõe um a outra para compor o frame final. Esses frames são colocados em ordem para produzir cada cena. Sobre os frames montados, partimos para a próxima etapa, que são os efeitos especias em 2D e a inserção dos créditos finais e qualquer outro sinal gráfico no filme.  

Concluída a Composição e a inserção dos efeitos especais em 2D e sinais gráficos, fazemos a Edição. Nessa etapa o som será incorporado (efeitos sonoros, falas e trilha sonora). A Correção de Cor é o próximo passo, que ajuda na harmonização das cores. Finda essa etapa, temos a Exportação do vídeo em um formato legível por programas de reprodução audiovisual. A Animação 3D está pronta!


Análise Diplomática


Partindo para a proposta da atividade que foi apresentada, temos o seguinte resultado:

  • Elementos Externos:
    • Suporte: HD do computador onde foi armazenado.
    • Forma: cópia.
    • Formato: digital MP4.
    • Gênero: audiovisual.
    • Validação: créditos ao final do documento com informações e dados dos envolvidos no processo (áudio, imagens, edição, etc).
    • Conteúdo externo: audiovisual e textual (créditos).

Entendemos Suporte como um elemento físico, material onde a informação está gravada, armazenada. Essa compreensão do que seria o Suporte foi graças à colaboração da professora Darcilene Rezende, que nos acompanhou esse semestre na disciplina de Arquivo Permanente 1.

Consideramos a Forma como cópia porque não trabalhamos com o documento original produzido pela empresa Peach, que produziu a Animação 3D e os documentos relativos a essa atividade.

O Formato seria a extensão escolhida para salvar/exportar o vídeo e que permite a leitura do documento em softwares de reprodução de documentos audiovisuais.

Como se trata de um documento que congrega imagem em movimento e som, consideramos o Gênero como Audiovisual.

A Validação se deu por meio de elementos contidos no final do documento. Por ser um documento não convencional, os elementos são os créditos da obra, que retratam os envolvidos em cada etapa.

Como prova de detenção dos direitos do documento produzido em termos de autoria, os documentos que serviram de base para as diversas etapas até a Animação 3D final, principalmente os produzidos na Pré-Produção, são os que apresentam valida e reconhecimento jurídico.

Conteúdo Externo foi um critério de análise dos Elementos Externos que observamos na obra de Di Pietro e Carvalho (2010) e seriam as características físicas do material, no nosso caso, audiovisual e textual (créditos).

  • Elementos Internos:
    • Protocolo: título da obra.
    • Conteúdo interno: Sequência de imagens concatenadas com áudio dispostos conforme indicações de roteiro e direção.
    • Escatocolo: créditos

Para determinação dos elementos internos, nos baseamos na obra de Duranti (1996).

Essa foi a nossa contribuição para aqueles que não tiveram a oportunidade de participar presencialmente desse momento. Bom divertimento virtual!

Referências:
BELLOTTO, Heloísa Liberalli. Como fazer análise diplomática e análise tipológica de documento de arquivo. São Paulo: IMESP/ARQ-SP, 2002. (projeto Como Fazer, 8)
Big Buck Bunny - site oficial. Disponível em https://peach.blender.org.
DI PIETRO, L. e CARVALHO, N. Organização de documentos audiovisuais e imagéticos: uma abordagem em diplomática e tipologia documental. Monografia de Graduação em Biblioteconomia. UnB. 2010.
DURANTI, Luciana. Diplomática: usos nuevos para una antigua ciencia. Trad. Manuel Vázquez. Carmona (Sevilla): S&C, 1996. (Biblioteca Archivística, 5)
LOPEZ, A. Identificação de tipologias documentais em acervos de trabalhadores. In: Antonio José Marques; Inez Tereznha Stampa. (Org.). Arquivos do mundo dos trabalhadores: coletânea do 2º Seminário Internacional. São Paulo; Rio de Janeiro: CUT; Arquivo Nacional, 2012, p. 15-31.